Segunda feira, ele chegou ao trabalho, ligou o computador e foi tomar o cafezinho, salvador das manhãs. Um certo gosto amargo reinava em sua boca, decorrente dos excessos alimentares do fim de semana (ou seria uma forma de sentir tristeza por um trabalho entediante?), lamentou também, naquele momento, que nós, brasileiros, temos o costume de beber cafezinhos que, em geral, terminam antes de chegar nas mesas de trabalho. Lembrou-se dos copos grandes de café que tomou andando na rua em New York, última viagem que fez. Pensou, que aqueles grandes copos de café realmente fazem companhia numa manhã de segunda-feira após o vazio que sentiu no fim de semana, ao mesmo tempo, quase que automaticamente, ao ressoar em sua mente a palavra companhia, procurou amenizar sua solidão acessando o Facebook no seu computador. Seu chefe tinha proibido o uso do computador da empresa em redes sociais, mas todo mundo acessava, inclusive o chefe que tinha proibido. Logou seu nome e senha, nunca deixava iniciar o “face” automaticamente na esperança de manter sua privacidade. Doce ilusão.
Procurou as novidades que lhe pudessem interessar, mas rapidamente foi verificar o último “post” que tinha colocado, mas o amargo de sua boca piorou ao notar que ninguém tinha curtido, comentado ou compartilhado seu “post”. Sentiu-se muito só e seus olhos percorreram os “posts” de alguns amigos, e um sentimento inconfessável lhe tomou quando viu que os “posts” dos outros tinham muitas curtidas, alguns comentários e mais alguns pares de compartilhamento, e se perguntou por que o dele não. Talvez não fosse muito interessante, mas ele achava que era, talvez o horário que postou pouca gente estava “logado”, mas notou que o “post” do amigo era contemporâneo ao dele. Triste, chegou à conclusão de que os amigos não se interessavam por ele.
Na verdade, ele associou sua autoestima ao número de curtidas que seus “posts” recebiam; dia após dia, ele, como milhões de pessoas se julgam a partir deste número, e também como eles passou a frequentar o Facebook de forma que pudesse angariar o maior número possível de atenção. Como muitos na vida real (e no Facebook) passou a pensar, comentar e postar na pura intenção de competir em número de curtidas e comentários. Sua “vida” passou a ter um glamour que não correspondia ao seu dia a dia. Tudo que fazia passou a ser incrível e todos os protestos passaram a ser extremados.
Conseguiu, seus números cresceram, agora era popular no Facebook, mas seus cafés nas manhãs de segunda-feira encontravam a mesma boca amarga de sempre. Mas pelo menos era popular…..
Nada mudou na vida dele, bem, quase nada, ele comprou uma caneca térmica, bem americana, e passou a usar de manhã no trabalho, diluindo seu café com água quente, como em New York, e parece que sua dor também diluía, bem como sua vida…