Todas as pessoas tinham pernas mecânicas, pernas de pau, eram coxos, claudicavam pela cidade. Cambaleavam entre calçadas de tijolos irregulares, se sentiam perfeitos por isso, acreditavam que sua caminhada estava sempre uniforme. Todos sabiam julgar os outros por terem excesso de opinião mancada e terem ouvidos entupidos de cera.
Quando subiam em seus carros automáticos, não precisavam de mais tempo para nada, velozes se tornavam, ambiciosos por terem maiores tecnologias, em toda a cidade não conseguiam enxergar o que ocorria aos seus próximos. Tudo o que viam eram seus próprios horizontes, sua visão era um pouco turva, havia diversas qualidades de flores à sua disposição, mas consideravam-nas mal cheirosas. Se algo fosse estranho aos seus olhos, logo diziam que não fazia parte deles, era padrão dos outros. Tinham mais tempo apenas para seus próprios umbigos.
Essa gente ficava tão imersa em seus pensamentos que não conseguia perceber que o mundo era completamente torto ao seu redor. Mesmo quando construíam suas famílias, elas eram perfeitas (cegueiras), e avinha violência, não havia coragem para perceber que existia depreciação da condição humana mesmo dentro de suas casas.
Quando há percepção entre coxos e mancos, eles se juntam, arrumam livros para aparar-lhes as pernas cambotas, entretanto os outros sem cotonetes serão sempre contra esse povo que parece feliz e com idéias incabíveis. Como eles não conseguem pensar por si, se aglomeram em constituições fundamentalistas sacerdotisas protéicas emagrecedoras de lavagem cerebral, não sabem o que falam, não conseguem aceitar a singularidade das coisas. Pois, não estão acostumados com o excepcional, nasceram dentro de um lar que achava melhor apontar o dedo para os diferentes, não conseguem entender que o que mais importa é sempre o amor entre as pessoas, alguns coxos compreenderam que suas pernas tortas são o que menos importa para a sua essência. A verdade é que a maioria dos mancos não tem a mínima idéia de que o dia que se sentiram livres foi o único dia que amaram na vida.