– Oi, como vai você?
(Vou do jeito que dá. Vou, aliás, do meu jeito que é o jeito possível. Sigo em frente pra não perder o ritmo, porque se parasse agora juro não saber onde acabaria. Mas também não tenho certeza se você realmente se interessa. Você se interessa? Se disser o que sinto agora, na lata, na surpresa, talvez o pegue despreparado por estar quebrando o ritmo de um diálogo previsível, porque estaria desarmando sua pergunta retórica, porque atropelaria a sua chance de resposta, de dizer que também está bem – mesmo que não esteja.
Se eu falar tudo o que me assola, se dividir meus pensamentos você não desistiria de me saber verdadeiramente? Acho até que essa pergunta deveria ser proibida em dias cinzas. Dias cinzas são um convite a olhar pra dentro e o que se esconde lá pode ser um perigo. Mas é mais perigoso não saber o que nos habita.
Você aí parado e eu aqui pensando esse monte de coisas, pensando inclusive que tenho pensado muito em você. Tanto que me distraio. Tanto que me perturbo. Tanto que já não sei onde você termina para que eu comece. São os pensamentos, são os pensamentos que me prendem a você. Eles são tantos que também se enredam uns nos outros. Mas não me olha assim, não me dê todo esse tempo para responder. Seu silêncio de espera é quase um pedido para que eu fique. E eu não sei como a gente fica.)
– Vou bem, e você?