Começo o texto compartilhando o profundo desânimo que sinto ao ver pessoas que, mesmo com acesso a informação e tendo suas necessidades básicas atendidas, se colocam na posição de juízes que sentenciam perversamente o outro com a mesma naturalidade que respiram.
Confesso que não entro em todas as discussões que julgo necessárias, principalmente nas redes sociais, para não me cansar ou reforçar a visão “chata”, que acredito que muitos tenham de mim. Mas e aí, se quero uma sociedade justa e segura, será que não devo me posicionar? Será que não é necessário coerência para haver mudanças? Será que o meu silêncio/cansaço não legitima a violência?
Dia 13 deste mês, Rafael, um menino de 14 anos, foi brutalmente assassinado. Pelas perseguições que sofria por sua orientação sexual e por possuir características atribuídas ao feminino, sua mãe acredita que tenha sido um crime homofóbico.
O que mais me doeu neste caso não foi saber que sua cabeça foi esmagada por uma pedra e que seu pequeno corpo estava marcado inúmeras vezes por pedaços de madeira, o que me fez (faz) sangrar é o fato de sua existência ter lhe sido negada mesmo antes de sua morte física. Pela descrição de sua mãe, ele era um menino que tinha como companhia a solidão e os xingamentos. As piadas lhe acompanhavam pelas ruas, assim como seu silêncio. Com apenas 14 anos Rafael vivenciou o preço alto da crueldade humana e as condenações por crimes não cometidos.
Já perdi a conta de quantas vezes ouvi expressões como “viado”, “baitola” e “bichinha” e o quanto elas são acompanhadas de risos. Tu já pensaste o quanto isto fere e enclausura quem escuta? Será que eu tenho direito a “falar o que penso”, mesmo que isto escancaradamente afete de forma negativa o outro? Quando opiniões infundadas podem se sobrepor à dignidade humana? Quem matou Rafael foi apenas quem lhe atirou a pedra, ou todos nós, que aceitamos com naturalidade esta violência? Por que elegemos representantes que “ingenuamente” encorajam, através de seus discursos, estas ações? É moralmente inevitável fazer estas e tantas outras perguntas…
Eu realmente não sei se há respostas “certas” para estas questões, mas sei as consequências delas. Tua piada mata. O meu silêncio também.