A Fundação Iberê Camargo inaugurou na semana passada a exposição Elida Tessler: gramática intuitiva que reúne obras da artista feitas, em sua maioria, com base em elementos da literatura. A mostra, com curadoria de Gloria Ferreira, é composta por 14 trabalhos elaborados com diferentes materiais, incluindo vidro, metal e madeira.
Porto-alegrense
Nascida em Porto Alegre em 1961, Elida Tessler é artista plástica e professora do Departamento de Artes Visuais e do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Juntamente com Jailton Moreira, fundou e coordenou O Torreão, espaço de produção e pesquisa em arte contemporânea, em Porto Alegre, que funcionou de 1993 até 2009.
Homenagem a Iberê Camargo
O trabalho da artista, desenvolvido com pesquisas em torno das relações entre a arte e obras literárias, faz uso de palavras retiradas de livros desde 1999. Nesta exposição, a produção artística é feita a partir da transcrição de fragmentos de livros, como na obra Gaveta dos guardados: biblioteca, trabalho composto por fichas catalográficas em fichário criado pela artista. O trabalho foi feito especialmente para a mostra e leva o título em homenagem ao livro póstumo de Iberê Camargo.
Obra
As palavras fazem parte da maioria das obras da exposição, como O Homem sem qualidades caça palavras (Coleção MAC-USP), de 2007, desenvolvida a partir do romance de Robert Musil. Em Vous êtes ici, de 2010, o termo “temps” da obra A la recherche du temps perdu, de Marcel Proust, está marcado com um carimbo, trazendo destaque para o conceito de tempo. Em Você me dá a sua palavra, trabalho iniciado em 2004, as palavras coletadas pela artista, através de diálogo direto com pessoas de seu cotidiano, estão gravadas nos prendedores de roupa. Em Grafar o buraco (2012), prendedores de roupa são desconstruídos e funcionam como suporte para as lâminas de laboratório, que também apresentam escritos.
Na obra Meu nome também é vermelho, de 2009, que parte do romance do escritor turco Orhan Pamuk, as letras são riscadas com um traço vermelho, e as palavras que guiam o leitor para a cor vermelha são mantidas. O universo criativo de Elida expande-se para o uso de diversos materiais, como as meias de nylon que pertenceram à sua mãe na obra Inda (1996), e a lã oxidada com água de Fundo de rumor mais macio que o silêncio, trabalho apresentado pela primeira vez em 2003 e que será refeito para a exposição.