A forma como nos colocamos na vida e no mundo se altera no transcurso da nossa existência. E talvez, esta seja uma das poucas certezas que ainda carrego. E que bom que é assim, pois provavelmente seria desinteressante sermos sempre os mesmos. Especialmente, porque o sempre, neste caso, carregaria toda sua carga de eternização das coisas.
Meu contato com o feminismo, que se deu ainda quando era jovem, é um dos demarcadores da forma como me coloco em relação ao mundo. Ter a consciência de que ser mulher é uma construção, que ao mesmo tempo em que nos fazem, é também o que fazemos de nós: muda tudo!
Bem, fui desafiada a escrever quinzenalmente esta coluna, e sobre este tema: o feminismo.
Algo, que nos é dado como pertencente a um grupo restrito de mulheres “iluminadas”, que possuem a tarefa messiânica de libertar outras tantas: às que restou a condição de “submissas”. Ora, algo que é nos apresentado como dispensável, em vista de que as desigualdades entre homens e mulheres já foram supostamente superadas. Logo, o feminismo além de desnecessário, seria também ultrapassado.
Mas, não é a partir de nenhuma destas perspectivas que gostaria de escrever. Escrever sobre feminismo, só tem sentido, se for possível estabelecer uma conexão, útil e interessante disto – que não é meramente uma abordagem teórica – com as nossas experiências cotidianas. Com a experiência de vida das mulheres como eu; das mulheres em geral; as mulheres comuns; as anônimas; às que restou um “papel”; as que “precisam se emancipar”.
Assim, quero dedicar as reflexões desta coluna aos diversos temas que atravessam esta experiência, em que o feminismo é uma das formas possíveis, de perceber a vida e nos relacionar com o mundo. Refletir sobre os fenômenos recentes que dizem respeito às mulheres; nossas lutas; nossas conquistas; e mesmo as amenidades do nosso cotidiano são as coisas que me interessam, e pelas quais o feminismo se evidencia e ganha sentido.
Espero que gostem. Boa leitura.