Acordar e dar de cara com o país como está não é das mais agradáveis primeiras ações do dia. Acolher todo nosso cotidiano como algo normal, não pode caracterizar saúde mental, afinal, quem tem um pouquinho de sensatez, não pode considerar eficaz e respeitoso o dia a dia do cidadão brasileiro.
Tenho andado pelas repartições públicas (e algumas privadas) e verificado o infortúnio que é viver, ou sobreviver, por aqui. O infortúnio e o desrespeito se unem como uma espécie de ritual diário. Tive um processo tramitando em Vara de Infância durante cinco anos e meio, para, no final, descobrir que, após tantas idas e vindas, o processo havia sumido; não fosse o trabalho árduo da minha advogada, a peleja não teria terminado.
Da outra vez, ainda sob a égide do poder público, na mesma Vara de infância, tive outro processo durando três anos e meio, sabe-se lá o motivo…tudo resolvido e lá estava eu em discussão com estagiários mal preparados para a tarefa a fim de transformar a sentença em uma certidão. Outra peleja!
Agora, no país da corrupção deslavada, visitei (puro eufemismo) um cartório para reconhecimento de firma, ora, o sujeito tem que ter sua assinatura reconhecida e para isso, “abre firma”. Pois bem, ao expor meu desejo de reconhecer firma fui inquirido se o reconhecimento seria por semelhança ou por autenticidade e que para cada uma teria um valor diferenciado. O que fazer? Pela semântica, optei pela autenticidade, afinal, semelhante não é igualdade; resultado: paguei mais caro.
Hoje, em conversa com amigos, soube de um caso de processo devolvido à procuradoria por engano e que agora teria que esperar, pelo menos, mais dois meses para que a procuradoria devolvesse e desse andamento ao dito cujo.
Há centenas de crianças esperando adoção, outras centenas de presos esperando a liberdade, mais outras centenas de trabalhadores aguardando aposentadoria, enquanto isso a máquina se alimenta com nossos impostos e mais impostos. Outro dia, fui tirar uma certidão de registro de imóvel com outra chamada ônus reais, do meu bolso saíram duzentos reais para o cartório, pagos em espécie. Alguma coisa está errada, pois para tirar essas certidões, tive que fotocopiar (gostaram?) minha carteira de identidade com autenticidade, ou seja, mais um dinheirinho. E assim caminha o país cordeiro, ineficaz e injusto.
Acho que temos que formar uma tropa de choque para dar fim nessa bagunça!